quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E A ACESSIBILIDADE EM PROVAS DO ENEM E DO ENADE


Pessoas com deficiência reivindicam acessibilidade nas provas do Enem e do ENADE

Os exames de avaliação do MEC para o ensino médio e ensino superior não são acessíveis para a pessoa com deficiência visual- é o que aponta uma série de denúncias que o IBDD recebeu na última semana. O Instituto já impetrou duas ações vitoriosas na Justiça contra instituições do Governo organizadoras de concursos, assim como contra as autarquias responsáveis pela aplicação das provas, por não disponibilizarem pessoas devidamente capacitadas para lerem e transcreverem as avaliações. “A maior dificuldade é a falta de preparo dos colaboradores para o auxílio à pessoa com deficiência nessas atividades. Seja porque não conseguem ler corretamente o texto escrito, seja porque desconhecem o assunto tratado nas questões. “Esse desrespeito à Lei de acessibilidade precisa acabar!”, afirma Priscila Selares, responsável pela área de Defesa de Direitos do IBDD.
 
Leia abaixo trechos dos depoimentos,  referentes ao ENADE e ao ENEM, ambos de responsabilidade do Ministério da Educação, do INEP e da CESGRANRIO, vindos de diversos estados brasileiros.  
 
“A minha prova do ENADE este ano foi solicitada em Braille, o que já significa que precisaria de ledor/transcritor. Porém ao chegar ao local de aplicação do exame, deparei-me com quatro pessoas que foram disponibilizadas para ficarem comigo, mas nenhum deles conhecia o sistema de escrita, eles estavam vendo o Braile pela primeira vez! Então teria que ditar minhas cinco questões dissertativas para que eles transcrevessem no caderno de respostas. Será que alguém pode me explicar o novo significado de transcritor? Até onde eu sei, o transcritor deve ter domínio do Braille, pois sua função é transcrever o que o candidato escreveu em Braille e não copiar o que o candidato irá ditar. O MEC está preocupando-se com quantidade e não com a qualidade dos fiscais e ledores que disponibilizam para nós. Se a prova foi solicitada em Braille, será que não fica entendido que o ledor/transcritor também tem que saber o Braille? As pessoas cegas daqui de Itabuna que fizeram o ENEM foram tratadas da mesma forma. É um absurdo!”, A
na, de Itabuna (BA)
 
“Fiz o ENADE em 2005. As condições citadas por Ana foram presenciadas por mim. Nomearam uma ledora muito inexperiente, que não estava ligada à área da educação, já que meu curso era pedagogia e exigia a leitura de termos técnicos. Ela não tinha qualquer noção de leitura desses termos. Não fazia pontuação adequada, não tinha qualidade na pronúncia e nem entonação para tal. Chegou a descrever figuras equivocadamente. Por exemplo, para uma imagem que tratava de uma construção barroca, ela disse se tratar de um morro de favela. Outra figura, em uma questão sobre inclusão digital, ela confundiu um mouse com um rato. Além de outros absurdos que fizeram com que a prova fosse mesmo motivo de comédia”, Luciane, de Guaratinguetá (SP)
 
“Fiz a prova do ENADE ano passado. Na ocasião, não me foi disponibilizado nem ledor e nem Braille. Eu cheguei ao exame na total insegurança. Na hora, improvisaram um ledor bastante inexperiente o que me causou imensa revolta e fez com que eu deixasse metade da prova em branco. O problema me parece não ser exatamente o Mec. A questão é a Fundação Cesgranrio determinada em descumprir os princípios básicos de acessibilidade em concursos. Eles descumprem reiteradamente as regras de acessibilidade”.  Juliano, de Porto Alegre (RS) 
 
“Não se pode admitir que continuem a ser designados como apoio para os nossos companheiros, ledores que não tenham amplo domínio da disciplina em que estes estão sendo avaliados”, Geraldo, Recife (PE) 
 
“Já passa da hora de exigirmos a profissionalização dos ledores”, César, da Associação Brasiliense de Deficientes Visuais – ABDV (BSB)

Matéria publicada em - Informe IBDD

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