sábado, 17 de agosto de 2013

DIREITOS HUMANOS/TORTURA - Livro faz histórico da Operação Bandeirantes com o DOI-COI nos Anos de Chumbo

"PARA QUE NUNCA MAIS ACONTEÇA"  - Livro de Mariana Joffily 

Pau de arara
(imagem - foto em preto e branco, com um homem negro preso ao que se chama de Pau de Arara, um ferro suspenso, ferramenta de Tortura,onde se aprisiona a pessoa com as mãos amarradas sobre as pernas dobradas e presas ao ferro, deixando a pessoa vulnerável e exposta aos torturadores. Foi usado na Ditadura Militar e, lamentavelmente, ainda persiste com meio de tortura no Brasil - fotografia de difusão da matéria)

"Na relação do torturador com o torturado a única coisa que não pode acontecer é você falar 'não falo'. Se você falar 'não falo', dali a cinco minutos você pode ser obrigado a falar, porque eles sabem que você tem algo a dizer" (trecho do depoimento de Dilma Rousseff, sobre a tortura sofrida durante o período militar no Brasil)

  por Patrícia Beloni


A atual presidente e outros ex-prisioneiros e vítimas desse regime contribuíram com suas histórias para a produção do livro No Centro da Engrenagem – Os Interrogatórios na Operação Bandeirante e no DOI-CODI de São Paulo (1969-1975), de Mariana Joffily. A produção é fruto da tese de doutorado em História Social, na USP, constituída por uma coletânea do Prêmio de Pesquisa Memórias, com base no Dossiê 50-Z-9, composto por 5.419 sessões, com 1.324 pessoas inquiridas.

Não é de hoje a busca pelo acesso aos arquivos e aos documentos oficiais que possibilite melhor esclarecer o funcionamento dos aparatos repressivos durante a ditadura militar, em especial o envolvimento das forças armadas, explica o professor Sérgio Adorno, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que redigiu a apresentação da publicação. 

Tanto a sociedade civil quanto a sociedade política têm se mobilizado para evitar o esquecimento das graves violações de diretos humanos cometidas contra a dissidência política. O meio acadêmico não fica de fora. A necessidade de análises e estudos que explicassem como o golpe de Estado e seus desdobramentos foram possíveis ampliou a atuação do meio acadêmico, do qual este livro faz parte, complementa Adorno.

Dentro da engrenagem 

“Com o seu livro, Mariana Joffily nos ajuda a entender por que o passado ainda não passou no Brasil”, palavras do professor Luiz Felipe de Alencastro, da Cátedra da História do Brasil da Universidade Paris Sorbonne e autor do prefácio da publicação. A pesquisa de Mariana surgiu a partir de um duplo questionamento dos tempos militares: qual a funcionalidade desses interrogatórios na engrenagem da repressão? Em que medida tais interrogatórios esclarecem o funcionamento desses órgãos, seu papel, alcance e resultados pretendidos?

Com base nessas dúvidas, o livro tornou-se um trabalho historiográfico e científico, que toma por base os interrogatórios preliminares de militantes das diversas tendências de esquerda, acusados de subversão, realizados no âmbito da Operação Bandeirante e do DOICODI, em São Paulo, no período de 1969-1975. São dados, depoimentos e análises em conjunto com os diálogos dos principais estudiosos do campo, com referências bibliográficas dos últimos 30 anos, que tentam elucidar um período da história do País que ainda não teve um ponto final.

O livro tem quatro capítulos que questionam e analisam esses interrogatórios, acompanhando minúcias, detalhes, cada passo, cada gesto, com as técnicas e linguagens dos repressores. “Difícil não imaginar a partir da leitura da transcrição minudente desses interrogatórios o que se passava nas salas, os movimentos em torno das sessões, o claro-escuro da ambientação, o tom das vozes, as ameaças, os gritos dos torturados, os jogos de palavras capazes tanto de extorquir confissão quanto arrependimento dos inquiridos, o sadismo dos interrogadores”, diz Adorno, também coordenador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP.

O livro se inicia com a descrição de outros estudos das razões que motivaram a criação da Operação Bandeirante e, em seguida, do DOI-CODI e suas fronteiras entre o legal e o ilegal. O ponto alto são as análises das dimensões discursivas do interrogatório. É nesse meio que a autora busca descobrir uma rede de diferentes atores, operações, estruturas, processos e rotinas de funcionamento da repressão, revelando as sutilezas do aparato em obstinada vontade de saber e de poder, e, por fim, a funcionalidade da tortura e suas técnicas. “Estudos como este contribuem decisivamente para romper silêncios, combater essa sorte de aquiescência para com a tortura e, na melhor das hipóteses, buscar alternativas em lideranças políticas jovens capazes de reconstruir, sob o signo da memória e da verdade, os elos entre o passado e o presente”, completa o professor Sérgio Adorno.

O livro
Mariana Joffily 
No Centro da Engrenagem – Os Interrogatórios na Operação Bandirante e no DOI-CODI de São Paulo (1969-1975)
São 
Paulo, Edusp, 2013, 352 págs.

Fonte: Jornal da USP Online  http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=11&id_noticia=221442

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