(imagem - pessoas idosas sentadas, mulheres em frente a possível centro de cuidados - foto da divulgação)
Idosos portadores de Alzheimer de leve a moderado têm a capacidade de conversa preservada, se forem dados os estímulos corretos. O pesquisador Renné Panduro Alegria descobriu isto em seu doutorado em Neurociências e Comportamento (NEC) no Instituto de Psicologia (IP) da USP, em parceria com o Programa Terceira Idade (PROTER) do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Alegria testou capacidades linguísticas por meio da análise dos itens lexicais mais usados pelos idosos enfermos. Isto porque as pessoas acometidas por esta doença muitas vezes se queixam de falta de vocabulário ao se comunicar.
“Nos testes de comunicação formal eles iam mal, muito mal, mas quando conversavam, respondiam muito melhor. Parece que compreendiam mais as conversas do que os testes formais”, diz o pesquisador, que é mestre em linguística. Inicialmente, sua pesquisa se propôs a avaliar o uso e o entendimento dos verbos e substantivos pelos pacientes com Alzheimer de leve a moderado, mas acabou considerando os adjetivos, advérbios, conjunções, pronomes e preposições, também. Alegria, orientado pelos professores Maria Inês Nogueira, do NEC, e Cássio Machado de Campos Bottino, do IPq, concluiu que “estimulando os pacientes com as palavras que eles têm preservadas, eles conseguem se comunicar” e que este estímulo pode reativar as áreas temporais, parietais e frontais do cérebro, responsáveis pela memória e linguagem.
Palavras preservadas
A pesquisa constatou que há um alto uso de substantivos em relação aos verbos. Entre eles, as palavras que nomeiam coisas concretas eram mais utilizadas e lembradas pelos pacientes, enquanto substantivos abstratos ficavam, em geral, fora de seus enunciados. Além disso, percebeu-se um alto uso de interjeições e preposições. Alegria explica que “eles perdem mais palavras de seres não-vivos, mas falam muito mais preposições, muito mais interjeições”. Assim, uma maneira de se melhorar a comunicação oral entre cuidadores e pessoas com Alzheimer é considerar estes itens lexicais mais preservados em sua linguagem.
A pesquisa constatou que há um alto uso de substantivos em relação aos verbos. Entre eles, as palavras que nomeiam coisas concretas eram mais utilizadas e lembradas pelos pacientes, enquanto substantivos abstratos ficavam, em geral, fora de seus enunciados. Além disso, percebeu-se um alto uso de interjeições e preposições. Alegria explica que “eles perdem mais palavras de seres não-vivos, mas falam muito mais preposições, muito mais interjeições”. Assim, uma maneira de se melhorar a comunicação oral entre cuidadores e pessoas com Alzheimer é considerar estes itens lexicais mais preservados em sua linguagem.
O estudo entrevistou 23 pacientes com Alzheimer do Ambulatório de Demências do PROTER e 23 idosos sadios. Estas últimas serviram de controle para identificar as características da alteração linguística da doença. Antes dessa etapa, foi feita uma triagem com 50 pessoas de cada grupo. O pesquisador conta que, de uma etapa para outra, muitas pessoas faleciam ou tinham o quadro da doença piorado. Os diálogos duravam 20 minutos e, neles, eram abordados os temas: cidade, família, educação, alimentação, saúde e religião.
Para a parte estatística, foi utilizado o Stablex, software que contabiliza as palavras de um texto e lista as mais frequentes e de maior peso na expressão. “O Stablex distingue o léxico preferencial, básico e diferencial. Preferencial é próprio de cada pessoa, o básico é geral, que todo mundo tem e o diferencial é diferente de cada um”, explica Renné. Ele também conta que, na USP, a tecnologia costuma ser usada em análises linguísticas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), mas raramente por pesquisadores da área da saúde. Foi aí que descobriu-se quais os tipos de palavras mais usados pelos idosos que sofrem com Alzheimer.
Alegria esclarece que o padrão do uso dos itens lexicais variam de língua para língua, de país para país. Ele se deparou com pesquisas americanas e europeias e constatou “que os pacientes de língua inglesa, francesa ou alemã apresentavam resultados um pouco diferentes”. Por causa de sua pesquisa, Alegria recebeu uma bolsa da Alzheimer’s Association para ir à Boston, nos Estados Unidos, e apresentar seu trabalho na Alzheimer’s Association International Conference (AAIC), que aconteceu do dia 13 a 18 de julho deste ano. A AAIC é o maior congresso anual sobre a doença de Alzheimer, e cada edição é realizada em um país diferente.
Imagem: Marcos Santos / USP Imagens
Mais informações: email realegrias@usp.br, com Renné Alegria
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