Cientistas criam fígado funcional a partir de células-tronco
É a primeira vez que se consegue criar um órgão tridimensional em laboratório usando apenas essas células
Cientistas do Japão relataram nesta quarta-feira (3) ter conseguido, com sucesso, transformar um coquetel de células-tronco nos primeiros fígados funcionais do mundo.
Os minúsculos fígados foram criados em laboratório e transplantados em camundongos, onde cresceram e começaram a exercer as mesmas funções de um fígado humano, incluindo o metabolismo de medicamentos e a produção de proteínas específicas deste órgão.
Embora os fígados experimentais sejam muito básicos – eles não têm todas as características de órgãos maduros –, é a primeira vez que cientistas conseguem desenvolver um órgão tridimensional em laboratório usando apenas células.
Experimentos anteriores conseguiram desenvolver órgãos usando células-tronco mescladas ao tecido de um doador ou a partir de algum tipo de material artificial.
“É uma estratégia diferente para criar tecidos e órgãos”, disse Anthony Atala, diretor do Instituto Wake Forest de Medicina Regenerativa, em Winston-Salem, Carolina do Norte.
“O trabalho é muito importante, pois permite estudar como os órgãos são criados e como eles dão origem a complexos sistemas mais funcionais”.
Com mais estudos, os pesquisadores creem que a técnica poderia, um dia, resolver a escassez crítica de órgãos humanos para transplante.
“Estamos avaliando a aplicabilidade de outros órgãos, como o pâncreas e os rins, porque eles têm uma forma similar de desenvolvimento, como o fígado. Até agora, tivemos resultados fascinantes”, disse Takanori Takebe, professor de medicina regenerativa na Escola de Medicina da Yokohama City University, do Japão.
Na pesquisa, descrita na edição on-line desta semana do periódico científico Nature, os pesquisadores misturaram três tipos diferentes de células-tronco. Primeiro as células pluripotentes – que têm a capacidade de se tornarem quase qualquer tipo de célula do corpo – foram induzidas a se transformarem em endoderme, a camada que cria a grandes quantidades do tecido esponjoso do fígado.
Estas células foram então misturadas com células estaminais mesenquimais (que produzem o tecido conjuntivo) e com uma população de células estaminais derivadas de sangue de cordão umbilical humano, que se transforma em tecido que dá origem aos vasos sanguíneos.
Misturar os diferentes tipos de células foi importante porque imitou o mesmo processo que ocorre durante o desenvolvimento fetal. Os distintos tipos de células usam sinais químicos para falar uns com os outros, orquestrando o processo de formação do órgão.
Depois de quatro a seis dias de crescimento em uma placa de Petri, os botões de fígado, como os cientistas os chamaram, foram transplantadas em camundongos onde rapidamente formaram novos vasos sanguíneos que se pareciam com as redes de artérias e veias no fígado de adultos. Os fígados experimentais seguiram crescendo por cerca de dois meses em seus hospedeiros.
Os pesquisadores testaram os pequenos fígados em vários estágios de desenvolvimento para se certificar de que eles estavam se formando normalmente. Após 10 dias, eles começaram a produzir proteínas do fígado humano.
Os cientistas ainda desafiaram os primitivos órgãos com medicamentos como o analgésico cetoprofeno, uma droga que humanos e camundongos metabolizam de forma diferente. A urina de ratos com os pequenos fígados transplantados mostrou subprodutos humanos do metabolismo da droga, outro sinal de que os órgãos mantiveram suas origens humanas.
Ao final do experimento, os cientistas transplantaram novos botões de fígado em ratos com insuficiência hepática. O transplante melhorou a sobrevivência dos animais, quando comparado com ratos com insuficiência hepática e sem o transplante.
Apesar de todos os sinais promissores, os pesquisadores disseram que vão seguir atentos a dois riscos em experimentos futuros – câncer e rejeição do transplante. Além de originar novos tipos de órgãos e tecidos, as células-tronco podem também se transformar em tumores, um problema que é preocupação constante no campo da medicina regenerativa.
*Por Brenda Goodman The New York Times
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