sábado, 7 de setembro de 2013

EPILEPSIA/NEUROCIRURGIA - Na PUC de Porto Alegre, RS, neuroimagem ajuda a avaliar segurança para epilépticos

Exames de imagem tornam cirurgia no cérebro para portadores de epilepsia mais segura

No Instituto do Cérebro da PUC de Porto Alegre já é possível realizar um sofisticado exame que permite aos médicos estabelecer se é ou não possível operar uma pessoa epilética com segurança.


Um dia muito especial para Neusa Maria Gattelli, uma dona de casa gaúcha de 47 anos que sofre de epilepsia desde os 25 e agora tem uma possibilidade de ficar finalmente livre da doença.
“Uma em cada quatro pessoas que sofrem de epilepsia, de crises epiléticas recorrentes, que se repetem em frequência variável, apesar de fazer o uso da medicação adequada, ir ao seu médico e tudo mais, seguem tendo crises e essas crises impactam muito na qualidade de vida dessas pessoas”, afirma André Palmini, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital da PUC-RS.
Foi o que aconteceu com Neusa. A doença foi limitando cada vez mais a vida dela. “Eu não posso sair sozinha, eu não posso viajar, eu não posso trabalhar”, conta a dona de casa.
O que ela vive é como se fosse uma criança adulta, sabe? A gente pensa que quer pegar para gente, repartir o problema dela, mas não tem como”, lamenta a irmã, Iris Maria Wagner, aposentada.
“A doença aumentou de uns tempos, os remédios não resolvem. Eles não me deixam cair no chão, mas eu perco consciência”, conta.
O cérebro comanda tudo o que fazemos, mas uma pequena falha nesse controle mestre pode transformar uma vida para sempre. É o que acontece com quem tem epilepsia. As causas podem ser muitas: uma pequena lesão durante o parto, uma má formação. O resultado? Uma desorganização dos sinais elétricos capaz de provocar sérias crises.
No Instituto do Cérebro da PUC de Porto Alegre já é possível realizar um sofisticado exame que permite aos médicos estabelecer se é ou não possível operar uma pessoa epilética com segurança.
O objetivo de qualquer neurocirurgia e especialmente na cirurgia da epilepsia é retirar o foco epilético, completamente, retirar o máximo então da doença e preservar o máximo do cérebro normal, para não causar sequelas novas. Tem áreas do cérebro que pode retirar 1mm, 2mm, 3mm, que não deixa sequela nenhuma e tem outras áreas que se retirar um centímetro a pessoa para de falar, por exemplo”, afirma Eliseu Paglioli, chefe do Serviço de Neurocirurgia do Hospital da PUC-RS.
É o desafio no caso da Neusa. Ela tem a doença do lado esquerdo do cérebro, o mesmo lado onde a maioria de nós tem a região da fala. Mas o cérebro do ser humano é capaz de tudo e quando se sente ameaçado pode reagir e criar outros caminhos para funcionar.
Ela pode ter desenvolvido a linguagem bilateral, então que pode retirar uma parte e não vai causar sequelas, ou a linguagem pode ter se mudado toda para o outro lado, ou em uma hipótese que vai inviabilizar a cirurgia dela é a linguagem continuar no lado esquerdo, na borda da lesão, ou seja, nesses casos não se pode operar, porque você vai causar uma sequela para a qualidade de vida dela”, explica o médico Paglioli.
Estou com bastante esperança em relação ao exame. Estou muito ansiosa, espero que resolva a minha vida! Vai resolver, eu tenho fé”, diz Neusa.
A decisão cirúrgica é um processo complexo que envolve psicólogos, médicos, linguistas. Neusa recebe um rápido treinamento. No exame ela vai ver as imagens através de um equipamento acoplado ao aparelho da ressonância. Cada vez que uma figura aparecer, Neusa deverá pensar sobre ela. O pensamento ativa a área da fala e a ressonância consegue captar isso.
As primeiras informações são promissoras: “Nós podemos ver que ela tem atividade de linguagem nos dois lados, isso é até bem comum em mulheres. A doença dela está localizada longe dessa área. Então se ela for realizar a cirurgia não vai comprometer a parte, a área de linguagem dela. Isso nos dá mais segurança ao cirurgião. Eu posso retirar essa área. Há esperança para essa paciente”, afirma Alexandre Franco, engenheiro biomédico da PUC-RS.
Em seguida, Neusa fez a cirurgia. Depois disso, não teve mais nenhuma crise.

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